terça-feira, 17 de junho de 2008

Nabucco - Guiseppe Verdi

Uma das ópera mais importantes para a voz de barítono é a ópera Nabucco de Giuseppe Verdi.

Lançado em 1999 este duplo CD contém uma gravação realizada ao vivo em Tóquio no final dos anos 80.

Antecedentes e Sinopse

Milão, 1841-42. A temporada de ópera iniciara-se da forma mais auspiciosa com a estreia duma nova ópera de Donizetti, então no auge da sua carreira, Maria Padilla interpretada pelo famoso soprano alemão Sophie Loewe e pelo famosíssimo barítono Giorgio Ronconi, uma presença privilegiada no Scala. Maria Padilla de Donizetti teve 23 representações.

Seguiu-se Saffo de Paccini, ópera que tivera a sua estreia em Nápoles havia um ano.

A terceira ópera da temporada no entanto foi um fiasco. Tratava-se de Odalisa de Alessandro Nisi, um compositor que acabaria por abandonar a carreira para ocupar um modesto lugar de mestre de capela numa aldeia remota da península italiana.

A temporada do Scala prosseguiu com uma outra ópera de Donizetti, Belisario, escrita havia 5 anos, e cantada também por Ronconi e pelo célebre soprano Giuseppina Strepponi.

Ronconi e Strepponi que iriam estar presentes na última ópera da temporada, uma ópera que não fora sequer anunciada no cartellone (um calendário dos espectáculos que o Scala publicava todos os anos antes do início da temporada). Essa ópera fora escrita propositadamente para o Scala por um jovem compositor de 28 anos que, três anos antes, obtivera algum sucesso com a apresentação da sua primeira ópera naquele teatro, à qual se seguira uma segunda de carácter jocoso, recebida com bastante frieza.

Foi pois com um sentimento misto de expectativa e de temor que os frequentadores do Scala se dirigiram para o teatro naquela remota noite de Carnaval de 1842, dia 9 de Março.
Seguiria aquele jovem compositor o destino brilhante de Donizetti? ou iria tornar-se um mero fornecedor de óperas ao gosto da época como Paccini? ou seria que o esperava o fiasco? o futuro de mestre de capela numa remota aldeia da província como iria acontecer com Alessandro Nisi?
A verdade é que aquela noite iria ser decisiva, e o autor da ópera apresentada pela primeira vez no Scala no Carnaval de 1842, dia 9 de Março, iria tornar-se um verdadeiro ídolo do povo italiano, e seria considerado universalmente como o maior compositor de óperas da Itália.

Passados 60 anos sobre essa estreia memorável toda a população de Milão saiu para a rua para acompanhar o cortejo que levaria os restos mortais desse compositor para a sua última morada. Durante esse cortejo impressionante, no qual se incorporaram o coro e a orquestra do Scala, a multidão entoaria um trecho dessa ópera estreada nesse longínquo Carnaval de 1842, e cujas palavras pareciam ganhar uma nova carga simbólica. Estamos a falar do famoso coro dos escravos, e a ópera estreada no Scala há quase 160 anos era o Nabucco. O seu autor? Giuseppe Verdi.

Regressando a Nabucco recordamos que a sua estreia em Milão em 1842 ultrapassou todas as expectativas. O elenco era excelente com Ronconi no papel de Nabucco e com Giuseppina Streppone no de Abigaïl. À parte isso o teatro não tivera grandes preocupações com os cenários ou o guarda roupa que reciclara dum bailado sobre o mesmo tema. Mas o sucesso da ópera foi tão grande que não teria apenas as 8 representações previstas para essa temporada, entre o Carnaval e a Páscoa, mas regressaria no Outono acabando por bater todos os recordes do Scala com um total de 67 representações. É durante esse período que a ópera adquire o seu título definitivo abreviado, Nabucco, oficializado em 1844, já que o título original era "Nabuccodonosor".

Contrariamente ao habitual Nabucco não está dividida em actos mas em partes, cada uma sob um título específico, e apresentando determinada situação: Jerusalém, O Ímpio, A Profecia e O Ídolo Quebrado.

A acção desenrola-se durante o reinado de Nabuccodonosor II, Rei da Babilónia que subiu ao poder 605 anos antes de Cristo, e que foi o responsável pela reconstrução da cidade considerada uma das 7 Maravilhas do Mundo. Cerca de 20 anos depois de ter sido coroado, Nabuccodonosor parte à conquista das terras de Judá destruindo o Templo de Salomão e fazendo numerosos prisioneiros que leva consigo para a Babilónia na condição de escravos.
A 1ª parte da ópera relata precisamente a invasão de Jerusalém e a destruição do Templo de Salomão – lugar onde a acção se desenrola.

Durante a sua estadia na Babilónia, onde fora embaixador, Ismael, filho do Rei dos Hebreus, apaixonara-se por Fenena, filha de Nabuccodonosor. Fenena tem uma irmã, Abigaïl, que também ama Ismael sem ser correspondida.

Quando a acção se inicia as tropas babilónicas já estão às portas da cidade. Os primeiros a chegar ao Templo são um grupo de Soldados disfarçados de hebreus e comandados por Abigaïl que, ao desejo de conquista junta o desejo de vingança. Ao ver Ismael lança-lhe um desafio dizendo que poupará o povo de Judá se ele aceitar o seu amor. Ismael recusa reafirmando o seu amor por Fenena. Nabuccodonosor entra a cavalo no Templo, e, ao vê-lo, o Sumo Sacerdote Zacarias ameaça matar Fenena, filha do Rei da Babilónia, se ele não desistir dos seus intentos. Nabuccodonosor desce do cavalo numa atitude aparentemente conciliatória, mas acaba por ordenar a destruição do Templo.

A 2ª parte da ópera tem o título de O Ímpio que simboliza a intenção blasfema de Nabuccodonosor se auto-proclamar Deus.

A acção desenrola-se na Babilónia para onde numerosos hebreus foram levados na condição de escravos. Nabuccodonosor deixou a cidade entregando o governo à sua filha Fenena. Ruída de inveja Abigaïl põe a saque o palácio acabando por descobrir um documento que prova que ela não é filha do Rei mas sim uma escrava que ele adoptara. O Sumo Sacerdote de Baal vem procurá-la para a informar que Fenena começou a libertar os escravos hebreus. Com o apoio do Sumo Sacerdote, Abigaïl planeia então tomar o poder.

Durante a noite Zacarias, Sumo Sacerdote Hebreu, procura Fenena nos seus aposentos para a converter ao judaísmo. No palácio reúnem-se os levitas na mesma altura em que Ismael se apresenta em busca de perdão: fora ele que impedira Zacarias de matar Fenena quando da invasão do Templo. Zacarias surge com a sua irmã Anna e com Fenena anunciando a conversão da princesa na mesma altura em que chega um mensageiro com a notícia da morte de Nabuccodonosor dizendo que o povo apoia Abigaïl como sua sucessora. Só que a morte do soberano é falsa, e Nabuccodonosor aparece no momento em que Abigaïl se preparava para assumir o Poder. Então o Rei anuncia renunciar ao deus Baal proclamando a sua própria condição divina. Quando Nabuccodonosor ordena que todos se inclinem para o adorar ouve-se um trovão terrível que lhe arranca misteriosamente a coroa. Zacarias exclama que os céus puniram o blasfemo, e diz que o Rei está louco. Aproveitando a confusão Abigaïl apodera-se da coroa dizendo que o povo de Baal não irá perder a sua grandeza.

A terceira parte da ópera denominada A Profecia decorre nos Jardins Suspensos da Babilónia. Abigail é proclamada regente e é instigada a condenar à morte os judeus, mas, antes disso, Nabucco entra atordoado. Abigail explica que está na função de regente porque o rei está impedido de reinar, e entrega-lhe a ordem de execução dos judeus, esperando que ele decrete a morte de Fenena, agora, convertida ao judaísmo. Nabucco assina, mas pergunta sobre o que vai acontecer a Fenena, e Abigail avisa que ela também vai morrer, juntamente com os outros judeus. Nabucco tenta mostrar o documento a Abigail dizendo que ela é uma impostora, mas ela já o tem em mãos e rasga-o em pedaços. Nabucco chama os guardas, mas não é atendido. Sem saída, roga clemencia a Abigail, que permanece irredutível. Enquanto isso, os hebreus descansam do trabalho escravo, diante das margens do Eufrates, e relembram sua pátria perdida. Zacarias anuncia que estarão livres do cativeiro em breve, e que Javé os ajudará a derrotar a Babilónia.

A quarta e última parte designa-se O Ídolo Destruído. Nabucco está nos seus aposentos e ouve gritar por Fenena. Ao olhar para a janela, vê que Fenena está a ser executada. Ao tentar abrir a porta, dá-se conta de que é prisioneiro. Neste momento, Nabucco implora perdão a Javé, rogando-lhe conversão, juntamente com seu povo. Nabucco recupra a razão, entra Abdalo que se certifica de que o rei é novamente ele próprio, e já está com todas as suas faculdades recuperadas.

Os carrascos preparam a execução de Zacarias e de seu povo. Fenena é aclamada como mártir, e na sua última prece, roga a Javé que a receba no céu. Nabucco acaba com a escravidão dos Hebreus e anuncia que ele próprio é um deles. A estátua de Baal é destruída e Abigail suicida-se, implorando a Ismael que se una novamente a Fenena. O povo reconhece o milagre, e direcciona louvores a Javé.


A gravação proposta foi captado ao vivo no Suntory Hall em Tóquio.

Fazem parte do elenco:

Nabucco - Renato Bruson
Ismaele - Fabio Armilato
Zaccaria - Ferruccio Furlanetto
Abigaille - Maria Guleghina
Fenene - Elena Zaremba
Gran Sacerdote - Carlo Striuli
Abdallo - Masatoshi Uehara
Anna - Taemi Kohama

Tokyo Opera Singers e a Tokyo Symphony Orchestra são dirigidos pelo maestro Daniel Oren.

Renato Bruson no papel de barítono tem uma prestação excelente e é um bom exemplo da importância da voz de Barítono na ópera verdiana.


Alberto Velez Grilo

Foto: www.amazon.co.uk
Antecedentes e Sinopse: Antena 2

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