terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ella Fitzgerald

Ella Jane Fitzgerald nasceu em Newport News no estado da Virgínia (Estado Unidos da América) a 25 de Abril de 1917.

Ella teve uma infância conturbada, com a separação dos pais e a morte da mãe. Viveu nesta altura na Virgínia, em Nova Iorque e novamente na Virgínia. Chegou a ser internada num reformatório de onde fugiu para viver algum tempo nas ruas.

Interessou-se desde muito cedo pela dança e pretendia ser bailarina. No entanto, adorava Jazz e ouvia frequentemente as gravações de Louis Armstrong, Bing Crosby e The Boswell Systers.

O interesse pela dança foi colocado de parte quando debutou como cantora a 21 de Novembro de 1934 (já de novo em Nova Iorque) no Apollo Theather (Harlem). Ganhou nesse dia o concurso para cantores e pode dizer-se que foi nesse momento que começou a sua meteórica carreira.

Detentora de uma voz extraordinária pelos seus naturais dotes de frescura, extensão (3 oitavas) e elasticidade, Ella começou por integrar a banda do baterista Chick Webb em 1935, obtendo, repentinamente, êxitos por toda a parte. Em 1938, grava com esta banda "A-Tisket, A-Tasket" (co-autora) que se tornou num enorme sucesso, junto do público.

Chick Webb morre em 1939 e Ella assume a direcção da Banda que foi renomeada "Ella Fitzgerald and Her Famous Orchestra".

Em 1942 termina a banda e Ella dedica-se a uma carreira a solo, assinando contrato com a editora discográfica Decca. Na segunda metade da década de 1940 contactou com o "novo" estilo bebop ingressando na grande orquestra de Dizzy Gillespie. Nesta época, abandona-se a divertimento de fazer música por puro prazer e o seu "scat" florescente (canto entoado sobre sílabas sem sentido escolhidas só pelo seu gosto rítmico e fónico) tornou-se um dos mais interessantes e perfeitos da história do Jazz. O seu álbum de 1945 "Flying Home", foi descrito anos mais tarde pelo New York Times como um dos trabalhos com mais influência no Jazz vocal da época.

Entre 1946 e 1951 gravou com Louis Armstrong um conjunto de obras, semeado de pequenas maravilhas, nas quais a simplicidade, o humor e o contraste das duas vozes são verdadeiramente notáveis.

Em 1955, Ella Fitzgerald deixa a Decca e passa a gravar para a editora criada pelo seu "manager" Norman Granz - Verve Records. Até esta altura a cantora sempre assumiu que o seu estilo era o bebop e que a sua carreira giraria sempre à sua volta. No entanto, um pouco influenciada pro Norman Granz, Ella sentiu que havia muito mais coisas igualmente interessantes que poderia fazer com a sua voz. Lança, assim, e, 1956 o álbum "Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Songbook", conquistando assim audiências fora do meio jazzístico.
Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Songbook foi o primeiro de oito "Songbooks" lançados pela Verve Records entre 1956 e 1964. Os compositores escolhidos para cada um dos álbuns, em que Fitzgerald grava temas conhecidos e algumas raridades, constituem um dos legados mais importantes deixados pela cantora para a história da música (isto mesmo considerando que os estilos interpretados se afastam muitas vezes do Jazz e se enquadram mais no pop).

Entre 1972 e 1983 Ella volta a gravar álbuns inteiramente dedicados a canções de compositores como Cole Porter (Ella Louves Cole), George Gershwin (Nice Work If You Can Get It) e António Carlos (Tom) Jobim (Ella Abraça Jobim).

Mesmo gravando estes trabalhos um pouco fora do âmbito do Jazz, a cantora nunca deixou durante a sua carreira, de fazer digressões um pouco por toda a parte, afirmado-se como uma das melhores cantoras de Jazz de sempre.

Em 1972 o sucesso estrondoso da álbum "Jazz at Santa Monica Civic'72" fez com que Norman Granz, que entretanto tinha vendido a Verve à MGM em 1967, voltasse a criar uma editora discográfica a Pablo Reccords, novamente focalizada na carreira de Ella Fitzgerald. Ella grava cerca de 20 álbuns para esta editora.

Durante os final da década de 1980, a voz de Ella entra em decadência, com o recurso intensivo a pequenas frases (associado à respiração deficiente) e a um vibrato excessivo (vibração excessiva da voz que geralmente surge nos cantores com mais idade).

Já com alguns problemas de saúde, Ella grava o seu último álbum em 1991 e o seu último espectáculo ocorreu em 1993.

Ella Fitzgerald morre a 15 de Junho de 1996.

No seu livro "Os caminhos do Jazz", Guido Boffi sintetiza da seguinte forma a carreira desta cantora - "Para a história do Jazz, Ella Fitzgerald permanecerá uma cantora completa, que escolheu um estilo baseado sobretudo na pureza de expressão, na valorização do ritmo, na flexibilidade tímbrica e no conhecimento técnico, frutos de um trabalho duro e sistemático".


Alberto Velez Grilo

Foto: www.geocities.com
Texto baseado no livro Os Caminhos do Jazz de Guido Boffi.

Ella Fitzgerald & Louis Armstrong for Lovers

Lançado em 2005 pela Verve Records, este álbum reúne dois nomes grandes do Jazz. Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.

O CD é uma compilação de temas incluídos noutros álbuns de Ella Fitzgerald disponíveis na mesma editora, nomeadamente Ella and Louis (1956), Ella and Friends (1950) e Ella and Louis Again (1957).

Acompanham Ella Fitzgerald (voz) e Louis Armostrong (trompete e voz):


Oscar Peterson (piano)
Herb Ellis (guitarra)
Ray Brown (baixo)
Louie Bellson, Bud Rich e Johnny Blowers (bateria)
Paul Webster (trompete)
Hank D'Amico (Clarinete)
Frank Ludwig (sax tenor)
Hank Jones (piano)
Everett Barksdale (guitarra)
Orquestra de Sy Oliver (direcção e arranjos)

Segundo a editora, o álbum reúne 11 da canções de amor mais belas alguma vez escritas, apresentadas com um novo significado, uma nova química e uma nova "vida" por Ella Fitzgerald e Louis Armstrong nas raras ocasiões em que se reuniram para gravar em estúdio.

Fazem parte desta compilação os seguintes temas:

The Nearness of You - (Hoagy Carmichael - Ned Washington)
Stars Fell on Alabama - (Frank Perkins - Mitchell Parish)
Dream a Little Dream of Me - (Fabian Andre - Wilbur Schwandt - Gus Kahn)
Under a Blanket of Blue - (Jerry Livingston - Al J. Neiburg - Marry Symes)
Moonlight in Vermont - (Karl Suessdorf - John Blackburn)
Love is Here To Sty - (George Gershwin - Ira Gershwin)
Let's Do It (Let's Fall in Love) - Cole Porter)
Would You Like To take a Walk - (Harry Warren - Mort Dixon - Billy Rose)
Isn't This a Lovely Day) - (Irving Berlin)
Autumm in New York - (Vermon Duke)
Tenderly - (Walter Gross - Jack Lawrence)

A voz de Ella conjuntamente com a trompete e a voz rouca e grave de Louis, resultam numa combinação perfeita para interpretar estes temas com um acentuado carácter romântico e sensual.


Alberto Velez Grilo

Foto: www.amazon.com

Ella Fitzgerald - Live At Montreux 1969

Lançado pela Eagle Vision em 2005, este DVD retrata a primeira passagem de Ella Fitzgerald pelo Festival de Jazz De Montreux.

Pelo Festival de Jazz de Montreux têm passado, desde a sua fundação em 1967, os maiores nomes do Jazz (e não só, a partir dos anos 70 o festival abriu-se a outros tipos de música, mantendo o Jazz como referência).

Nesta altura já a carreira de Ella Fitzgerald se tinha afirmado dentro e fora do mundo do Jazz.

Neste concerto de 1969, Ella apresenta um reportório que vai desde o Jazz mais puro ou clássico até ao Pop. Diz-se que os críticos estavam um pouco cépticos com o reportório escolhido, mas que o resultado final foi excelente e esta primeira passagem de Ella pelo festival constituiu um marco importante.

Acompanhada por Tommy Flanagan (paino) e por Frank De La Rosa (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria), Ella interpreta os seguentes temas:

Give me That Simple Live
This Girl's in Love With You
I Won't Dance
A Place for Lovers
That Old Black Magic
Useless Landscape
I Love You Madly
Trouble Is a Man
A Man and a Woman
Sunshine of Your Love
Well Alright Okay You Win
Hey Jude
Scat Medley
A House is Not a Home

Controverso para alguns, por não contemplar apenas temas de Jazz, nesta passagem de Ella Fitezgerald pelo Festival de Jazz de Montreux, este DVD é, no entanto, uma referência para todos os que apreciam a voz e arte da cantora dentro e fora do Jazz.


Alberto Velez Grilo

foto: www.fnac.pt


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Dame Joan Sutherland - La Stupenda

Joan Sutherland nasceu em Sydney na Austrália, a 7 de Novembro de 1926. Como a maioria dos grandes cantores, Sutherland teve desde cedo contacto com a música. A sua mãe era mezzo-soprano e mesmo em criança a pequena Joan escutava com atenção a sua.

As primeiras aulas de canto foram, assim, orientadas pela mãe e, talvez por esse facto, Joan Sutherland começou a estudar no registo de mezzo-soprano.

Aos 18 anos inicia aulas de canto com Aida e John Dickens que concluem imediatamente que a sua voz não é de mezzo-soprano, mas sim de soprano, isto é, com um registo mais agudo. Conta-se que Sutherland ficou surpreendida com esta conclusão dos seus professores, uma vez que sempre tinha estudado com a mãe num registo de mezzo-soprano, menos agudo, portanto.

Em 1948, Joan Sutherland conhece um jovem pianista, Richard Bonynge que passou a acompanhá-la em alguns recitais na Austrália e que se viria a tornar-se uma das pessoas mais importantes da sua carreia e da sua vida (casariam uns anos mais tarde). Bonynge era de opinião que a voz de Sutherland poderia ser trabalhada num registo ainda mais agudo do que aquele em que estava a trabalhar. Joan tinha uma voz gigantesca em termos de potência e pensou na altura que seria um soprano dramático . Um soprano dramático tem uma voz com uma grande potência, mas com pouca agilidade (dificuldade em executar passagens muito rápidas ou notas muito agudas). Este tipo de voz é ideal para as óperas de Wagner.

Depois de uma breve carreira como "dactilógrafa" e de ter ganho alguns concursos de voz, nomeadamente em 1949 o "Sydney Sun Aria" e em 1950 o "Mobil Quest", Joan Sutherland parte para Londres para pôr em prática o seu grande sonho, tornar-se cantora residente da Royal Opera House, um dos maiores teatros de ópera da altura (e da actualidade).
Em Londres volta a encontrar Richard Bonynge com quem casa em 1954. Joan tem como professor de canto Clive Carey e Richard Bonynge estuda composição e regência.

Mais uma vez nos seus estudos em Londres, Sutherland desenvolveu a sua voz como soprano dramático, embora Bonynge estivesse convencido que a sua voz detinha uma agilidade especial e capacidade para ser trabalhada num registo mais agudo.
Depois de uma audição na Royal Opera House (Covent Garden), é-lhe oferecido um contrato de dois anos nesta casa de ópera. Joan estreia-se na ópera "A Flauta Mágica de Mozart" em 1952. Ainda nesse ano estreia-se como Clotilde (personagem secundária) na ópera "Norma" de Bellini, ao lado de Maria Callas. Foi esta a única ocasião em que as duas Divas cantaram juntas.

Com a ajuda e entusiasmo de Richard Bonynge, estreia-se também em 1952 no papel principal de Amélia na ópera de Verdi "Um Baile de Máscaras".

Por esta altura, e embora com várias apresentações em diferentes papeis na Royal Opera House, Richard Bonynge convence Sutherland de que a sua voz é ideal para interpretação de repertório de Bel canto, isto é, Sutherland possuía um tipo de voz raro. Era um soprano dramático de coloratura, uma voz de soprano com uma potência considerável, mas também com muita agilidade e com capacidade de atingir notas extremamente agudas.

A 17 de Fevereiro de 1959 dá-se uma viragem na então curta carreira de Sutherland. Deu-se nesse dia a estreia da ópera "Lucia de Lammermoor" de Donizetti na Royal Opera House. Sutherland assumiu o papel principal de Lucia, dirigida pelo maestro Tulio Serafin. Da ópera faz parte uma ária de loucura, característica de muitas óperas de Bel canto, em que a personagem, como o próprio nome indica, enlouquece. Estas árias são de extrema dificuldade de execução, quer a nível vocal, que a nível cénico. Sutherland foi um sucesso estrondoso. Como se costuma dizer "a casa vaio abaixo com aplausos".
A partir daqui a carreira de Sutherland foi catapultada e as estreias nos mais famosos teatros de ópera do mundo (Milão, Veneza, Paris, Nova Iorque, etc) foram enormes sucessos. Sutherland passa a ser dirigida por Bonynge em praticamente todas as suas actuações e depois de uma récita ocorrida no Teatro La Fenice de Veneza, Sutherland passa a ser chamada de La Stupenda.

Devido às capacidades da sua voz, Sutherland e Bonynge recuperaram muitas operas do repertório de Bel canto (compositores dos séc. XVIII e XIX), trabalho já iniciado por Maria Callas durante a sua carreira, óperas estas que estavam afastadas dos palco há longos anos.

Sempre com muito cuidado na escolha dos seus trabalhos, Sutherland conseguiu que a sua voz se mantivesse praticamente intacta durante décadas. Trabalhou com os melhores cantores da sua época e deixou um legado importantíssimo em gravações de áudio e vídeo.

Destacam-se as suas interpretações de:

Lucia - Lucia de Lammermoor (Donizetti)
Norma - Norma (Bellini)
Elvira - I Puritani (Bellini)
Maria - Maria Stuarda (Donizetti)
Amina - La Sonnambula (Bellini)
Marie - La Fille du Regiment (Donizetti)
Semiramide - Semiramide (Rossini)
Lucrezia - Lucrezia Borgia (Donizetti)
Anna - Anna Bolena (Donizetti)
Violetta - La Traviata (Verdi)
Gilda - Rigoletto (Verdi)
Elvira - Il Trovatore (Verdi)


Terminou a sua carreira no dia de Ano Novo em 1990 (aos 63 anos) na Royal Opera House, ao Lado de Luciano Pavarotti e de Marylin Horne com quem tinha trabalhado inúmeras vezes.

Ao longo da sua vida recebeu várias condecorações sendo a mais importante a de "Comandante do Império Britânico" concedida pela Rainha Isabel II em 1961. Passou a designar-se a partir desta data Dame Joan Sutherland.

Continua ainda hoje a sua actividade no meio musical como júri de alguns concursos de canto.

Joan Sutherland é para muitos a "Voz do século XX"


Alberto Velez Grilo

Foto: ildolcesuono.blogspot.com


Joan Sutherland - The voice of The Century

A Decca lançou em Novembro de 2006 esta colectânea de árias, duetos e canções interpretadas por Joan Sutherland, para comemorar o seu octogésimo aniversário e a sua ligação a esta editora ao longo de mais de trinta anos.

O duplo CD cobre uma parte importante da longa carreira de Sutherland e inclui gravações de estúdio ocorridas entre 1960 e 1988.

Além dos CD's, a obra inclui cerca de 100 páginas de informação sobre a vida e a carreira de Sutherland e apresenta uma lista de todas as óperas e recitais gravados pela cantora com o selo Decca.

Por cobrir praticamente toda a carreira de Sutherland, é possível acompanhar as alterações de voz que se foram verificando ao longo do tempo.
Sutherland foi sempre muito inteligente na escolha do seu repertório, deixando algumas interpretações para o final da sua carreira, o que não acontece com muitos cantores da actualidade (que muitas vezes vêem as suas carreiras destruídas precocemente) . São exemplos disso, as óperas Lucrécia Borgia (Donizetti), cuja ária " Era desso il figlio mio" faz parte desta colectânea, e Anna Bolena (Donizetti). A sua técnica incomparável, permitiu-lhe executar os papeis mais difíceis até ao final da carreira.

Os duetos são todos interpretados com Luciano Pavarotti com quem Sutherland gravou inúmeras óperas com o selo da Decca. Aliás, foi Sutherland quem lançou Pavarotti nos mais importantes palcos operáticos do mundo.

O repertório escolhido pela Decca demonstra bem as capacidades vocais de Sutherland. Salientam-se obras dos seguintes compositores (por ordem das obras apresentadas nos CD's)

Gounod
Verdi
Delibes
Bizet
Donizetti
Bellini
Offenbach
Heuberger
J. Strauss
Massenet
Rossini
Lehár
Noel Coward
Puccini

Sutherland é dirigida por Molinari-Pradelli, John Pritchard e, obviamente, Richard Bonynge.

De salientar a presença de uma ária que nunca tinha sido incluída em nenhum dos lançamentos anteriores da Decca: "Ancor non guinse...Perchè non ho del vento...Toma, toma, o caro oggeto" da ópera Rosmonda D'Inghilterra de Donizetti.


Alberto Velez Grilo

Foto: www.fnac.pt

Lucia de Lammermoor - Gaetano Donizetti

A Deutsche Grammophon lançou em Novembro de 2005 este DVD gravado numa récita da ópera Lucia de Lammermoor ocorrida na Metrpolitan Opera House (Nova Iorque) em 1982.

Lucia de Lammermoor é uma ópera trágica em três actos com música de Gaetano Donizetti e libretto de Salvatore Cammarano, baseada no romance histórico "The Bride of Lammermoor" de Sir Walter Scott. A estreia ocorreu no ano de 1835 no Teatro San Carlo em Nápoles.

A acção decorre na Escócia em 1669 e relata a tragédia que ocorre quando Lucia e Edgardo, pertencentes a famílias que há muito se odeiam, se apaixonam um pelo outro. Enrico, irmão de Lucia, descobre o romance entre os dois e rapidamente se apressa a encontrar um pretendente para a sua irmã.
Lucia vive entusiasmada com o seu amor por Edgardo, mas atormentada por um suposto fantasma de uma mulher assassinada na fonte dos jardins do castelo onde vive (aria "Regnava nel Silenzio").
Num dos seu encontros amorosos, Edgardo diz a Lucia que tem que partir para França para combater, mas que quando voltar proporá tréguas entre as famílias e pedirá a mão de Lucia.
Passa-se algum tempo. Arturo consegue interceptar uma carta de Edgardo para Lucia e com base nela, falsifica uma nova carta que supostamente Edgardo teria escrito para outra mulher. Convencida de que Edgardo a trai, Lucia aceita a proposta do irmão para casar com Arturo.
Na festa de noivado entre Lucia e Arturo, a pobre Lucia assina o contrato de casamento. Momentos depois entra Edgardo que a acusa de traição (famoso sexteto "Chi mi frena").
A tragédia começa quando Lucia na noite de núpcias assassina o seu marido Arturo. Quando os convidados ainda se encontram a festejar o casamento, Lucia aparece perante eles com as vestes ensanguentadas e num estado delirante. Inicia-se, assim, a famosa cena da loucura. Lucia imagina que está a casar com Edgardo, faz movimentos completamente despropositados (ária "Il dolce suono me colpi"). Chega o seu irmão Enrico, que ao ver Lucia num estado demente é tolhido por um enorme sentimento de remorso. Lucia canta "Spargi d'amaro pianto" onde promete que rezará por Edgardo no céu e lá esperará por ele. Desfalece depois, perante o horror de todos.
Edgardo, por seu lado, prepara o seu suicídio. Sem Lucia não valerá a pena viver. Alguém passa e lhe comunica o que se passou. Comunica-lhe também que Lucia acabara de falecer. Sabendo que Lucia nunca o havia traído e que morreu por ele, Edagardo consuma o suicídio.

Lucia de Lammermoor é das óperas de Donizetti mais apresentadas nos palcos actualmente. A sua recuperação deve-se em muito a Maria Callas que voltou a interpretá-la no início da década de 1950 e depois a Joan Sutherland a partir de 1959. Lucia de Lammermoor foi mesmo a ópera que lançou Joan Sutherland para o estrelato no mundo operático depois de uma famosa récita ocorrida na Royal Opera House de Londres em Fevereiro de 1959. Conta-se que Maria Callas assistiu a uma das récitas e que comentou que nunca conseguiria interpretar a cena de loucura como Joan Sutherland (isto depois de Sutherland se atirar literalmente de uma escada abaixo no final da cena).

Sutherland viria a encarnar Lucia de Lammermoor inúmeras vezes durante a sua carreira. Interpretou Lucia pela última vez em 1988 no Garn Teatre del Liceu de Barcelona em 1988, isto é, 29 anos depois da estreia de Londres.

Não existem infelizmente em vídeo, gravações das primeiras Lucias de Sutherland.

O DVD que apresentamos foi realizado em 1982 quando Sutherland tinha já 55 anos de idade. No entanto, a interpretação pode ser considerada de altíssimo nível e a cena de loucura interpretada magistralmente. Os aplausos no final da cena são prova disto mesmo.

Acompanha Sutherland um grande tenor de nome Alfredo Kraus (Edgardo) que, curiosamente, também a acompanhou na última récita em Barcelona.

Assim, o elenco é:

Joan Sutherland
Alfredo Kraus
Pablo Elvira

Paul Plishka

Orquestra e coro da Metropolitan Opera House dirigidos por Richard Bonynge.


Existe para além desta, uma outra gravação da Lucia de Lammermoor com a Sutherland ocorrida na Austrália em 1986. A interpretação de Sutherland está ao mesmo nível, mas o resto do elenco é de qualidade um pouco inferior.

Actualmente a ópera Lucia de Lammermoor continua a ser regularmente apresentada nos teatros de ópera e com intérpretes de grande qualidade. Saliento as interpretações de Edita Gruberova, Mariella Devia, June Anderson e Natalie Dessay.


Alberto Velez Grilo

Foto: www.deutschegrammophon.com



terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Miles Davis - Uma Lenda do Jazz

No seu livro "Os Caminhos do Jazz", Guido Boffi afirma - "Não existe, no mundo do Jazz, um outro músico que, de modo análogo a Miles Davis, tenha sido capaz de atravessar com a sua trompete muitos movimentos fervilhantes que nasciam progressivamente na modera cena musical jazzistíca... Davis foi até ao fim um artista sensibilíssimo na apresentação das novas tendências e das mudanças nas novas formas de expressão".

Começamos, assim, no Lado a Lado com a Música a nossa deambulação pelo mundo do Jazz.

Miles Davis nasceu nos Estado Unidos da América em Alton - Illinois em 26 de Maio de 1926. Cedo começou o seu interesse pela música. A mãe pretendia que estudasse piano, mas uma trompete oferecida pelo pai despertou mais interesse a Miles. Era o início.

Depois de concluir os seus estudos de iniciação musical e de ter pertencido a algumas bandas no Illinois, Miles muda-se para Nova Iorque aos 19 anos, com uma bolsa de estudo na Juilliard Scholl of Music. Cedo abandona os estudos e passa a pertencer ao quinteto liderado por Charlie Parker. Surguem a primeiras gravações integradas no estilo bebop.

Em 1948 surgem os primeiros contactos entre Miles Davis e o pianista Gil Evans, que nos seus arranjos utilizava instrumentos que na altura não faziam parte das bandas de jazz como a tuba e o corne francês. Surge assim, o que na altura foi considerando, um insólito noneto (tuba, corne francês, trombone, trompete, sax contralto e sax barítono, piano, contrabaixo e bateria), liderado por Miles e que permite novas e mais leves sonoridades afastando-se, assim, do bebop. A esta nova corrente chamou-se cool jazz. O noneto designado por "Tuba Band" é considerado por muitos críticos umas das mais fascinantes bandas de jazz de todos os tempos.

Após uma fase obscura e de repensamento, Miles funda em 1955 um quinteto destinado a entrar na história do jazz. O Miles Davis Quintet formado para além do próprio Miles Davis como trompetista, por John Coltrane no sax tenor, Red Garland no baixo, Paul Chambers no contrabaixo e Philly Jo Jones na bateria, adopta um estilo próximo do bebop, mas com uma influência do blues e do gospel (hard bop), introduzida principalmente pela presença do saxofone. O quinteto é dissolvido em 1957, uma vez que Miles se opunha ao consumo de droga por parte de alguns dos seus participantes.

Em 1957 grava, improvisando, a banda sonora do filme Fim de Semana no Ascensor de Louis Malle, obra que contém antecipações para a viragem de Miles para a modalidade.
Para dar voz a este conceito derivado da música antiga grega e da eclesiástica medieval, reúne de novo em 1958 Red Garland, Paul Chambers Philly Jo Jones e John Coltrane a quem junta no sax alto Julian "Cannonball" Adderley e no piano Bill Evans. Grava nesta altura Kind of Blue considerado por muitos o melhor disco de Miles Davis e um dos álbuns mais belos e importantes de toda a história do jazz.

Em 1963 Miles forma um novo quinteto mas abandonado em parte pelo público ligou-se ao rock e introduziu instrumentos eléctricos no conjunto (1969). Reune Wayne Shorter (sax soprano), Cick Corea e Herbie Hancock (pianos eléctricos) Joe Zawinul (órgão), John McLaughlin (guitarra), Dave Holland (contrabaixo) e Tony Williams(bateria). Esta ligação ao rock foi criticada por muitos apreciadores de jazz.

Até ao inicio dos anos 90 Miles continua a gravar e a viajar por todo o mundo em inúmeros concertos, mudando várias vezes de editora e continuando a ser criticado por muitos por se afastar do jazz. No entanto, mesmo nesta fase, a sonoridade característica da trompete de Miles foi sempre mantida.

A 28 de Setembro de 1991, Miles morre, deixando um legado enorme de gravações em disco e vídeo.


Alberto Velez Grilo

Foto: www.amazon.com
Texto baseado no livro Os Caminhos do Jazz de Guido Boffi e em artigos da Wikipedia.

Kind of Blue - Miles Davis

O álbum Kind of Blue, editado pela Columbia em 1959 e reeditado inúmeras vezes é, talvez, o trabalho mais significativo de Miles Davis.

Com uma linha melódica invejável num estilo próximo do jazz modal, este álbum faz, certamente parte da colecção discográfica de qualquer apreciador de jazz. Para os menos aficionados ou para os que são ainda apenas curiosos, esta é uma boa obra para iniciação.

Kind of Blue surge depois de Miles ter dissolvido o famoso Miles Davis Quintet que se celebrizou entre 1955 e 1957.
No entanto, em 1959 Miles volta a reunir alguns elementos do quinteto, nomeadamente no caso do álbum Kind of Blue, Paul Chambers e Jonh Coltrane, a quem junta Julian "Cannonball" Adderley, James Cobb e Wynton Kelly e Bill Evens (pianista branco).

Assim, Kind of Blue conta com as interpretações de:

Miles Davis - Trompete;
Julian "Cannonball" Adderley - Sax Alto
John Coltrane - Sax Tenor
Wynton Kelly - Piano (Faixa 2)
Bill Evans - Piano
Paul Chambers - Contrabaixo
Jimmy Cobb - Bateria

Fazem parte do álbuns os seguinte temas, todos compostos por Miles Davis:

So What
Freddie Freeloader
Blue in Green
Al Blues
Flamengo Sketches

Kind of Blue é um dos álbuns de jazz mais vendidos de sempre, se não o mais vendido. Reúne nos 5 temas apresentados toda a magia e arte de Males Davis.


Alberto Velez Grilo

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The Miles Davis Story

A Legacy lançou em 2001 o DVD intitulado "The Miles Davis Story". O DVD baseia-se num documentário produzido e realizado por Mike Dibb para a "Channel 4 television".

Para os interessados na vida e obra de Miles Davis, este documentário é essencial. As várias fases da vida e da carreira de Miles são aqui retratadas de forma pormenorizada, como base em entrevistas feitas as familiares, amigos, produtores e grandes interpretes do jazz que conheceram e tocaram com Miles.

Conjuntamente com as as entrevistas são apresentados pequenos excertos em vídeo de gravações em estúdio e de concertos. Infelizmente os excertos apresentados são de muito curta duração e frequentemente interrompidos pelas entrevistas. Este facto, pode não ser importante para os grandes apreciadores de jazz e de Miles, que certamente possuem gravações em disco ou DVD dos concertos ou gravações de estúdio apresentados, mas para os menos conhecedores seria certamente mais interessante haver excertos de maior duração.

Do documentário fazem parte, entre outros, entrevistas com:

Miles Davis
Jimmy Cobb - Baterista
Shirley Horne - Cantora
Frances Miles - 1ª mulher
Ian Carr - Biografo de Miles Davis
Gil Evans
Bob Weinstock - Prestige Records
George Avakian - Columbia Records


Alberto Velez Grilo

Foto: www.amazon.com

So What - Miles Davis

Miles Davis - So What foi lançado pela editora Salt Peanuts e faz parte de uma colecção designada por "Modern Jazz on DVD".

O DVD contem dois conjuntos de temas.

O primeiro conjunto, gravado a 2 de Abril de 1959 inclui:

So What - (Miles Davis)
The Duke - (Dave Burbeck)
Blues for Pablo (Gil Evans)
New Rhumba (Ahmad Jamal)

Miles é neste caso acompanhado por:

John Coltrane - sax tenor
Wynton Kelly - piano
Paul Chambers - contrabaixo
Jimmy Cobb - Bateria
Gil Evans Orquestra

De notar que esta gravação foi feita exactamente no mesmo ano em que foi gravado o álbum Kind of Blue, na altura em que Miles volta a reunir alguns dos membros do famoso Miles Davis Quintet, desfeito uns anos antes.

O segundo conjunto de temas, gravado em Novembro de 1967, mostra Miles já noutra fase da sua carreira, mas ainda antes da sua ligação ao rock. Acompanham Miles Davis:

Wayne Shorter - sax tenor
Herbie Hancock - piano
Ron Carter - contrabaixo
Tommy Williams - Bateria

São interpretados os seguintes temas:

Footprints (Wayne Shorter)
Walkin' (Richard Carpenter)
Gingerbread Boy (Jimmy Health)


A captação de imagem foi feita a preto e branco. A qualidade do som e da imagem é bastante aceitável, tendo sido a captação de som feita em mono.

Alberto Velez Grilo

Foto: www.records-nordic.de